sábado, 1 de maio de 2010

Desabafos do Senhor "F"


Nas aventuras de sua vida no deserto do Kardía, onde a ilusão e a mentira quase sempre prevalecem, o Senhor "F" despe-se de toda sua vergonha e mesmo correndo o risco de parecer rídiculo, bobo e idiota, além de poder sofrer censura. Ele vai ao inferno pela terceira vez em sua vida e esta sua ida ao inferno parece ser a pior de todas, pois a viajem de retorno esta sendo a mais dificil. Tendo ele mesmo me dito isso, antes de permitir que eu publicasse esse desabafo. Sem mais delongas, vamos ao que o senhor "F" desabafou comigo:




"A mulher que eu tive e que nunca foi minha." (O obscuro)




*A minha [vida] não esta boa, a pesar de toda a correria que tinha, eu tinha alguém que julgava estar me esperando e só em pensar que tinha uma namorada isso já me confortava, era ótimo.
*Alguém muito legal, amigável, companheira e tinhamos muitos planos juntos.
*Isso é o mais formidável, saber que confiava muito que estava tudo planejado certinho e de repente tudo se desfaz.
*É ai que eu fico sem chão, nada tem mais sentido, uma certa angustia que me deixa meio adormecido, sem raciocinar direito, sem saber o que dizer e quando dizer, tentando me conformar com a perda, mas ao mesmo tempo não querer perdê-la, isso que eu considero angustia.
*Fomos felizes, ou eramos felizes, ela sempre comedida, tranquila, um ser totalmente especial por ser tranquila.
*Fogia a toda generalização de mulher, não fala muito, tem sentimentos e é carinhosa e sensível, ate mais sensível que o padrão das mulheres e na cama ela era tudo, não existia meu "eu"; eu era ela, e ela era nós dois, pois ela que com todo charme e delicadeza me conduzia.
*E outra característica dela é que por mais sensivel de todas as mulheres que ela seja, ela também era uma super-mulher. Embora todo sua sensibilidade, ela nunca teria esses vis sentimentos ou necessidades humanos de desabafar, de ter um problema sério e desabafar com alguém, nem mesmo com quem ela amou ou amava ou continua amando.
*E o que faço aqui é mais uma analise dela e um desabafo meu, pois eu sim sou vil, sou desprezivelmente humano, sinto tudo e tenho a necessidade feminina (que ela não tem) de comunicar, eu preciso falar pra alguém o que sinto, o que me dói e assim parece que a dor diminui momentaneamente.
*Ela é forte e sempre será um exemplo de pessoas superiores pra mim. Não porque ela tem todas as necessidades humanas, isso também tenho, mas ela é superior porque as tem, mas não as demonstra.
*Ela segura as dificuldades da vida dela, por mais dolorosa que sejam, de forma calma e serena, impassível, firme, sem jamais se abalar ou sentir qualquer necessidade de desabafar. Essas são características dela que pouquíssimos seres humanos têm, são qualidades que se encontram em pessoas de tempos futuros, não nos nossos tempos. Não é que não tenha sentimentos, que seja apática, mas ao contrario, ela sente a vida de uma forma própria, idiossincrática, como quem vê a vida em terceira pessoa. Assim, ela é ser-humano, mas tem qualidade de deuses, pois encara a vida como espectadora da própria vida. A vida dela, não é o que esta acontecendo com ela, mas é fora dela que ela vê passando, como apenas um fluir do tempo.
*Era essa mulher que eu pensava que tinha, mas eu sou muito pequeno para ela. Como pode um simples e insignificante mortal querer ter um ser com tais características superiores?
*Atitudes superiores ela tem, qualquer ser reles teria terminado tudo dizendo "gosto de outro ser vil, tu passou". Com isso eu não a sofreria tanto, sofreria, mas a esqueceria facilmente. Mas com ela não, ela teve uma atitude digna dos deuses, bem como na literatura cristã Jesus deu sua vida pelo amor aos pecadores, ela me disse apenas "vai, ainda te amo e eu só quero ficar só". Ela é superior e divina sim porque ela não se subjuga, ela cria homens para amá-la e adorá-la, como os deuses.
*Eu só gostaria de dizer a ela que aprendi muito, ela foi meu mestre na vida sofrida do dia-dia. Não abandonei meus sonhos de ter uma família, talvez apenas o alonguei mais do que eu esperava, mas não abandonei. Porém ela é quem me ensinou a viver realmente, pois ela me ensinou, mesmo se envolvendo, a manter distância. Nunca se entregar, nunca abandonar a vida a si mesma, mas sempre ser senhor da sua vida.
*Posso arrumar outra pessoa, mas sempre lembrarei dos ensinamentos dela. De que nunca estamos seguros, nunca podemos nos entregar completamente. Ela será sempre a mulher dos meus sonhos, quando um mortal tentou apreender um espírito livre, um ser superior, metafísico, divino, quem sabe?
*E era mais ou menos o que gostaria de expressar, mas tem coisas que são inefáveis, não podemos dizer. Então tudo que eu não disse dela, eu a sinto. Sinto-a bastante, porque um pouco dela esta em mim. Eu ainda a amo, mas estou sempre tentando me convencer do contrário.
*Vou amá-la até o limite da eternidade, mas tenho que ser como ela, nunca posso expressar isso, tenho que tentar imitá-la, mas nunca serei ela mesma, pois isso só o pode ser ela. Eu a admiro.




Então o Senhor "F" terminou isso, levantou-se e antes de se retirar me disse: "Pode publicar, se um dia ela lê isso, ela saberá que é pra ela esse meu desabafo." E completou: "Todo mundo mente, mas eu não soube mentir pra ela. Disse Nietzsche, não existem fatos, apenas interpretações."




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