sexta-feira, 28 de novembro de 2008

A Morte de Dona Rosa


Rosa, rosa, rosa
Do jardim a mais formosa
Quando criança, ainda broto
Já prometia um futuro outro

Que não sendo ornamental
Seria bruta, tal o hímem vaginal.
Quando adulta era tão rubra
De um vermelho igual ao clítoris vaginal.

Rosa, rosa, rosa
Quando, Dona Rosa, pensavas
Ser dona do coração da ave bruta
Era tão escrava dela
Quanto o vôo da ave abrupta.

Dona, dona, dona
A rosa nem da morte foi
Metamorfoseando-se em opium
Solitária, só a droga
Da ave ao velorium foi.

Dona, dona, dona
Nem da água pura que as raízes
De Dona Rosa nutria e a ave saciava
Agora filtra, no narguilé,
A fumaça do opium do ódio da mulher.

Sem lhe trazer alívio algum
Em poesia, nem em prosa
Somente salvou-lhe a morte, Dona Rosa.

Flávio Soares...

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Secção tête-à-tête - Papo existencial.

A diz:
a todo momento estamos fazendo coisas perigosas, viver por exemplo.
@ diz:
é... tens razão. mas há perigos que são automáticos, outros são conscientes.
@ diz:
tipo: vc escolhe, sabe?!
A diz:
é, somos condenados a ser livres. Existencialismo sartreano.
A diz:
sempre temos escolhas, o que não significa que sempre escolhemos o certo.
@ diz:
exatamente
@ diz:
há pessoas que simplesmente poe-se lado a lado com o que de pior existe...
@ diz:
parece que andam de mãos dadas com seu vilão...
A diz:
sempre vejo os casamentos assim e talvez um dia eu faça contrato com minha vilã.
@ diz:
hum
@ diz:
que lindu

domingo, 23 de novembro de 2008

DOS SAPATOS


Os sapatos são apenas utensílios,
Mas se forem vermelhos
Podem ser seus delírios.

Os sapatos são apenas vestimento,
Mas se forem vermelhos
Podem ser fetiches de um momento.

Os sapatos são escolha de gosto,
Mas se forem vermelhos
Podem ser os delírios do gozo.

Flávio Soares...

DO VERMELHO

Coisa vermelha é o sangue.
Líquido sagrado e divino
Mais também ambíguo,
Pois também é vermelho o vinho.

Ah! Sangue e vinho.
Coisa vermelha,
Profana e divina,
É o vermelho sangue da vagina.

Flávio Soares...

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Instigação


[Flávio Soares]

Inocente Dor

O desespero da humanidade,
O maior horror universal
É o amor unilateral.

Sentir amor por alguém quando se sabe
Que não se pode ser correspondido
É a pior dor sentimental.

Não existe guerra, homem-bomba, bomba atômica, coisa tal
Que essa dor espiritual.
Não existe sangue, bomba-H, nuclear, arma letal
Que dê fim a essa dor sentimental.
Não existe droga, anfetamina, haloperidol ou fenobarbital
Que nos livre desse mal.

[Flávio Soares]

Post Scriptum: Escrito após um porre, de Matini, e dedicado à esta alucinogénia bebida.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Aos Amigos

Aos amigos,
Não ofereço-lhes rosas, nem lírios.
Ofereço-lhes apenas o sorriso e os poemas,
Pois as horas que passo entre vós
Valem-me mais que a pena
Só não valem os meus ridículos poemas.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Distimia



É noite, não é morte.
Mas tenha pressa em morrer
Estes tempos já estão extintos
E o mundo não é tão lindo.

É noite, não é morte.
Apenas mais uma noite,
Não é dor nem paz.
O amor já não é eterno
E a vida não nos satisfaz.

Olhos de Vênus


Os olhos não bastam para ver
Que acordamos para a morte
Não nascestes! Estas morrendo!
Cada dia, um dia a menos ou a Vênus?

Escolha!

Humanidade



Veja, estamos cegos. Consegues ver?
Não tire os óculos,
Arranque os olhos e fique de óculos
O sol está forte.

E agora? Como estás?
Estou escuro, rigorosamente noturno,
Estou vazio.
Contemple a humanidade agora,
E veja a eterna rosa do amor nascer mais forte das trevas!