sábado, 24 de janeiro de 2009

Uma Leitura do Big Brother Brasil, por Luís Torres.

Como um menino sobre a cadeira de rodas*

O Big Brother Brasil começou, para a alegria de muitas pessoas, que poderão finalmente passar horas e horas na frente da tv torcendo, emozionando-se, sorrindo, divertindo-se e discutindo os mais diversos argumentos em torno dos assim chamados “náufragos da casa”. Mas o que será que se esconde por trás desse fenômeno televisivo? Quem são os telespectadores desse tão famoso e igualmente inútil programa? Vejamos.

Uma casa fechada, hospeda um numero x de pessoas, escolhidas entre milhões que se candidataram, todas movidas pelo mesmo interesse, ou seja, ganhar uma grande quantidade de dinheiro sem muito esforço e, de quebra, passar mais de dois meses na televisão e aparecer no canal mais potente do país. É esse o cenário visível do Big Brother, são fatos declarados, todos sabemos. Os mais curiosos, porém, preferem não ficar só espiando, pois não é o melhor método para visualizar o conteúdo das entre linhas, que em geral é o mais interessante. Sendo eu muito curioso e preocupado por questões assim tocantes, decidi refletir e tentar ver o conteúdo escondido dessa fábula e, de tal modo, compreender melhor o famoso reality show.

Era pois um domingo qualquer de janeiro, pleno inverno aqui na Itália, eu estava sentado no banco de um parque admirando a brancura da neve que cobria a grama. Muitas crianças brincavam, corriam e faziam a divertida batalha com bolas de neve. Foi então que eu vi um menino sobre uma cadeira de rodas, empurrada pela sua mãe, penso, vindo na minha direção. Pararam exatamente no banco à minha esquerda, ela sentou-se, abriu um livro e começou a ler, enquanto o menino, sobre a sua cadeira de rodas, olhava os outros meninos que corriam e faziam a festa com a neve. Vi nos seus olhos o brilho da decepção e da sã inveja, pois tudo o que ele desejava era correr sobre aquela neve e brincar com os outros meninos. Apesar disso, percebi que o menino se divertia assim mesmo, pois dava risadas e comentava a brincadeira dos outros. Nesse exato momento penei: acabei de encontrar uma chave de leitura do fenômeno Big Brother.

O fã do Big Brother é semelhante ao menino sobre a cadeira de rodas. Esse fervoroso fã, no seu total anonimato, na sua desesperada pequenez, na sua pobreza (não necessariamente econômica, mas também cultural) e talvez numa paralisia do senso crítico, não tem outra opção, não lhe resta que saborear o prazer dos náufragos, mandar um sms a favor do preferido e torcer. O importante é poder ir dormir tranquilo, sabendo que o candidato predileto se salvou do paredão e que no dia seguinte, na mesma hora, ele vai estar lá, à inteira disposição do desconhecido que tem poder somente sobre o controle remoto. Um poder que começa a perder as forças, visto que ele aos poucos vai se transformando num pobre escravo de um só canal, que é aquele que fornece a ilusão mais emocionante e entorpecedora.

Devo porém confessar que o menino sobre a cadeira de rodas não é exatamente igual ao fã do Big Brother. Para o menino sobre a cadeira de rodas o fim do inverno e o derretimento da neve é um alívio, pois ele não vai ter que continuar vendo os outros meninos divertirem-se com a neve enquanto ele olha, olha e sorrir. Para o fã do Big Brother, ao contrário, o fim de uma temporada do reality show é sinônimo de saudade, faz falta, é preciso acostumar-se e organizar de novo a agenda cultural, procurar um novo fornecedor de ilusões. Mas, felizmente, ele pode tranquilizar-se pois a tv oferece aos montes esse tipo de produto, assim ele pode ir passando o ano enquanto espera a nova temporada do grande irmão, pois só ele pode satisfazer “alla grande” as exigências do anonimato. Afinal só o grande irmão oferece a possibilidade de mandar um sms e decidir quem entra e quem sai, quem ganha e quem perde. Só o grande irmão consegue dar o prazer de viver uma vida diferente daquela dura, difícil e monótona vida real, basta um click e uma espiadinha. Só o grande irmão tem um confessionário com uma telecamera 24 horas por dia, a serviço de quem aparece e de quem gostaria de aparecer.

Melhor que isso só mesmo tornar-se um náufrago ou ser um menino sobre uma cadeira de rodas num parque coberto de neve.

Luís Torres Guimarães
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* Pensamentos de um grande amigo que trancou o curso de Filosofia na Universidade Federal do Maranhão, pois ganhou uma bolsa para estudar Neuropsicologia em Turin – Itália. Luís é maranhense de Imperatriz e ex-seminarista que saiu de sua cidade com um ideal de melhores condições de sobrevivência e o qual eu tive o prazer de conhecer e fazer grande amizade no curso de Filosofia. Agora, de Turin, ele continua me enviando seus pensamentos inquietantes sobre a realidade cotidiana e que eu tenho o imenso prazer de publicá-los em meu blog. Essa é a atitude de um filósofo não forjado pela academia, mas pela vida.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

ЭNTRЭPЭRNASЭLINHAS


É com as palavras que expressamos o pensamento, mas é nas entrelinhas das palavras que se encontra a verdade dos pensamentos.
Falar é como andar e, às vezes, trocamos as pernas.
Corremos quando queremos andar e andamos para, propositalmente, nos atrasar.
É quando silenciamos que fazemos mais barulho e quando estamos a gritar, na verdade, queremos silêncio.
Não, realmente não dá pra nos dissociarmos dos macacos, pois quando analisamos profundamente algo acabamos invertendo a perspectiva e falando sem nada falar, ocultando o que se quer dizer, embora pensando estarmos sendo claro e objetivo.
Quem nunca quis dizer algo e ficou falando em círculo tentando não chegar ao ponto bruscamente? Quem nunca, correndo, trocou os pés e caiu? Quem nunca, querendo enganar, se traiu?
Quem fala a verdade diretamente é um maldito, pois tantos rodeios são necessários para algo não ser digo. Quem não lê as entrelinhas nunca sabe da verdade!

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Ano Novo de Novo!

A gota pinga.
O tempo esvai-se.
A contagem linear do tempo urge!
O que se foi, vai-te...

A vida passa lentamente,
Desgraça!
O universo conspira inutilmente,
sem graça.

O novo de novo vem,
Porém de novo o novo nada tem.
O velho, outrora novo,
Perdido no tempo oco.

O tempo, inexistente,
Alimenta o velho e o novo
E a esperança do povo, de novo!

Flávio Soares...